O concelho de Ovar, marcado por um património religioso de grande qualidade artística, vive, há vários séculos, com fervor e intensidade, as principais datas do calendário litúrgico, em especial a época Quaresmal. Encerrado o tempo do Entrudo, inicia-se as cinzas e um período de recolhimento e reflexão, em que a comunidade vive e demonstra a sua Fé.
O ponto alto das celebrações religiosas é a realização das habituais Procissões Quaresmais, que têm início com a Procissão dos Terceiros, a que se segue a dos Passos, Ecce-Homo, Via-sacra e, por fim, a do Enterro do Senhor.
Procissão dos Terceiros (ou das Cinzas)
Segundo Domingo da Quaresma
Foi em 1663 (data provável) da 1ª procissão das Cinzas, mais conhecida por Procissão dos Terceiros terá saído à rua com 24 andores; com a substituição das imagens antigas de Roca em 1868 era formada por 10 andores.
Atualmente, saem à rua 14 andores as imagens dos Santos Tutelados da Ordem Terceira de São Francisco: Imaculada Conceição, Os Bem Casados, Santa Rosa de Viterbo, São Francisco nas Silvas, Santa Margarida de Cortona, Santo Ivo, São Roque, Santa Isabel Rainha da Hungria, São Luís Rei de França, Santa Isabel Rainha de Portugal, Santo António de Lisboa, Santa Clara de Assis, Visão de São Francisco e Andor da Ordem.
Procissão dos Passos (ou do Encontro)
Quarto Domingo da Quaresma
A Procissão dos Passos, ou do Encontro, é a segunda das Procissões Quaresmais, para muitos, a mais marcante, pelo seu significado e pela envolvência que as Capelas dos Passos proporcionam, sendo organizada pela Irmandade dos Passos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Seguindo o percurso das capelas dedicadas à Paixão de Cristo, as imagens de Nossa Senhora das Dores e do Senhor dos Passos, provenientes de sentidos opostos, reúnem-se no Passo do Encontro, percorrendo, juntas, depois do sermão, o restante trajeto.
Procissão Farricocos ou Fogaréus |ECCE-HOMO (Terro-Terro)|
Quinta-feira Santa
Datando provavelmente de 1682, a procissão dos Farricocos ou Fogaréus, como também é conhecida, iniciativa da Ordem Terceira para celebrar os suplícios de Cristo é também denominada Procissão ECCE – HOMO, Terro – Terro, Cana Verde ou dos Penitentes.
Atualmente, no silêncio da noite, interrompido, pontualmente, pelo som das matracas, os três andores – Senhor da Cana Verde, o do Senhor Amarrado à Coluna da Flagelação e o do Senhor dos Aflitos (Cristo Crucificado) – percorrem a Cidade de Ovar, parando nas esplendorosas Capelas dos Passos, até chegarem ao Calvário e retomarem à Igreja Matriz, de onde partiram.
Procissão da Via-Sacra
Sexta-feira Santa - 07h30
A Via-Sacra é o mais apreciado exercício de piedade em louvor da Paixão de Jesus Cristo, pelo que se pratica sobretudo no tempo da Quaresma e na Sexta-Feira Santa, dia da Paixão, Morte e Sepultura de Jesus. Consiste em acompanhar espiritualmente o trajeto de Jesus desde a agonia, no Jardim das Oliveiras, com momentos de meditação e oração em várias estações.
Profundamente ligada, desde a sua origem, aos Franciscanos, em Ovar esta Procissão é organizada pela Ordem Franciscana Secular e percorre as catorze cruzes presentes nas principais ruas do centro da Cidade na manhã de Sexta-Feira Santa.
Procissão do Enterro do Senhor ou do Senhor Morto
Sexta-feira Santa
A Procissão do Enterro do Senhor ou do Senhor Morto, uma das mais antigas e majestosas da Cidade de Ovar, é dos compromissos estatutários da Irmandade dos Passos e compõe-se de dois andores: – o do esquife do Senhor e o de Nossa Senhora da Soledade, fazendo-se a sepultura de Cristo na Capela do Calvário, seguindo o andor de Nossa Senhora para a Igreja.
O Cântico da Verónica era ouvido na sexta-feira por três vezes: na Igreja (no Cenáculo, no final do sermão e antes da saída do Enterro do Senhor); no pátio superior da Capela do Calvário, ao recolher o esquife com a imagem do Senhor Morto; e novamente na Igreja, após sermão das lágrimas (na presença da Virgem).
Em tempo recuados, até 1828, realizava-se o auto do descimento da cruz em sexta-feira santa, autorrepresentado à custa da Irmandade dos Passos por atores portuenses “sem qualidades cénicas à altura do assunto”.
No Calvário, a imagem do Senhor Morto passava “do esquife para um caixão que era depois metido numa cova aberta no chão areento e mais tarde, quando se fizeram as capelas, sepultado na sacristia. Foi com certeza devido a este facto, que devia impressionar mal os estranhos, que por aí se disse e diz ainda hoje (1922) em ar de zombaria que os vareiros enterram o Senhor na areia! (Manuel Lírio, Os Passos).
Na sexta-feira santa, os padres tinham por brio conduzir o esquife com o Senhor Morto.
Bibliografia
Monografia de Ovar de Alberto Sousa Lamy;
Dicionário da História de Ovar de Alberto Sousa Lamy;
Fontes desconhecidas.