O Pão de Ló é um doce regional que pelas suas características se tornou mundialmente afamado. A sua configuração é de uma broa feita com ovos sobretudo de gemas, açúcar e farinha, envolvida em papel de linho branco. A estrutura é composta no seu todo por uma massa muito fofa e leve. Na parte superior há uma finíssima côdea de cor acastanhada e levemente húmida cuja orla é uma massa cremosa amarela cor de ovo. O seu magnifico aroma é outra característica, sendo absorvida instantaneamente pelas glândulas gustativas.

Faltam elementos que nos elucidem sobre o motivo ou causa do aparecimento desta especialidade regional em Ovar mas, sabendo-se que a receita deste doce teve origem conventual, não será difícil de concluir que alguma freira vareira terá divulgado a alguém (familiar/amigo) residente em Ovar.

A doçaria conventual as comunidades monásticas, sobretudo as professoras oriundas das melhores e abastadas famílias do Reino ocupavam-se nos seus longos ócios de clausura, conferindo originalidade e requinte na preparação de doçaria exótica onde naturalmente deverá ser incluído o Pão de Ló de Ovar.

Desde 1781 que já se fazia pão de ló, (o agora designado Pão de Ló São Luiz), em 1917 apareceram mais duas casas– a casa de Pão de Ló Celeste de Ovar, de Celeste Gomes Pinto, e a casa de Pão de Ló Ideal d’Ovar, de Francisco Peixoto Pinto Ferreira; o Pão de Ló Celeste, teve uma campanha publicitária promovida por Raul Caldevilla.

Por outro lado, sabemos ao certo que a antiguidade desta guloseima é anterior ao século XVIII. Na verdade, conforme se lê no livro “Os Passos”, do Padre Manuel de Oliveira Lírio. “Em 1781, são obsequiados com pães de Ló de Ovar, os Padres que levavam o andor na procissão dos Passos”. – “Arquive-se como documento a antiguidade desta guloseima”.

Daqui resulta com clareza, não só que o Pão de Ló já era afamado na época, mas também que a sua manufatura já existia há bastante tempo.

De igual modo, Marques Gomes no seu livro “Aveiro e seu Destino”, relativamente então à vila de Ovar na edição de 1877 à pág. 290 lê-se: Na confeitaria tornam-se notáveis o Pão de Ló, e os ovos moles rivais dos de Aveiro.

Sabe-se, sem sombra de dúvida, que no século XIX, várias eram as famílias de Ovar, (Arrota, Virgílio, Guedes e Prosódias) a confecionarem, com uma ou outra variante este doce regional. Dessas famílias, todas desaparecidas, exceto a primeira (nossos antepassados – da família Luiz), era quem fabricava o Pão de Ló mais legitimo, mais mimoso, apresentando as broas com mais “Ló” na parte superior, havendo uma maior concentração de humidade de ovos e ao mesmo tempo de massa finíssima e muito leve. Daí que apreciadores desta guloseima a apelidavam de “Pão de ló pitinho”.

A maioria dos membros desta família Arrota, que na generalidade exerciam a atividade de fragateiros no Tejo, Lisboa, Seixal, Arrentela, etc., foram-se projetando como arrais, patrões e proprietários, tendo-se destacado Luiz Oliveira Gomes, (1843-1913) que além de outras atividades, foi considerável proprietário de fragatas. (Noticia do jornal “O Século” de 15 de janeiro de 1913).

Como os seus antepassados, legítimos percursores desta especialidade mormente João Oliveira Gomes Arrota(N.1740), Manuel Arrota (N.1770), António Oliveira Gomes (N.1770), Manuel Oliveira Gomes (N.1805), José Oliveira Gomes (N.1818), casado Mariana de Oliveira Lírio, pais do referido Luiz de Oliveira Gomes, já se dedicassem ao fabrico de pão de ló na sua terra natal – Ovar – levou a que este fragateiro implementasse o hábito de presentear os seus clientes com Pães de Ló, nas quadras festivas do Natal e Páscoa, recorrendo a canastras próprias para o seu transporte. Por este motivo a confeção deste doce foi incrementada no segundo quartel do século XIX.

Este fabrico teve continuidade na pessoa da sua cunhada, Rosa de Oliveira Duarte (1860-1924), casada com Manuel de Oliveira Gomes (1854-1888), depois nos seus filhos Ana de Oliveira Gomes (1884-1942) e Luiz de Oliveira Gomes, sobrinho (1887-1944), (professor particular Almanaque de Ovar edição de 1914, pág.31).

Posteriormente nos primos destes o casal Rosa de Oliveira Duarte (1905-1994) e Francisco de Oliveira Dias, (1899-1986),( Distinguido com a Medalha de Prata, pela Associação Comerciantes do Distrito de Aveiro, como o comerciante mais antigo de Ovar.- Jornal de Noticias de Ovar 21-08-1986). A continuação do fabrico foi de responsabilidade de Luiz Duarte de Oliveira Dias e esposa Rosa da Silva Pilreira, filho e nora deste casal.
O fabrico até ao fim do século XIX, era muito rudimentar. A massa era batida à mão durante duas horas, em alguidares de barro vermelho com uma pá, e cozido em formas de barro forradas a papel de linho branco, em forno de lenha aquecido com pinhas ou ramos secos.
Havendo necessidade de testar a temperatura do forno, era utilizada uma vara comprida, levando na extremidade uma pequena porção de papel de linho, devendo permanecer durante algum tempo. Para que este período tivesse sempre igual duração, Luiz Duarte de Oliveira Dias, estabeleceu a reza do “Pai Nosso” ao mesmo tempo que se invocava uma boa cozedura. Os formatos de então eram baseados no arrátel, devido a uma forma de formato médio levar um arrátel de açúcar na sua confeção.

Era normal as pessoas de Ovar, fornecerem os ovos, açúcar e farinha, levando para si as claras sobrantes, pagando o chamado “feitio de fabrico”.
Para transportar os pães de ló, usavam tabuleiros destinados exclusivamente para o efeito, que eram guarnecidos por panos de linho lindamente bordados.
A continuação do fabrico em regime artesanal e familiar vem-se mantendo, tendo a Família Luiz procurado não perder a tradição quanto ao cumprimento integral da secular receita, tornando-o assim “O MAIS ANTIGO E ACREDITADO” Pão de Ló de Ovar.

Por volta de 1948, época que se desenvolve e se expande ativamente a sua comercialização, os membros desta família, em memória dos seus antepassados que criaram e afamaram tão legitimo produto, deram marca de fabrico denominando-o de “Pão de Ló São Luiz de Ovar”, patenteado com as marcas de registo de Propriedade industrial nºs 165435 e 320875, esta última do bicentenário.

Este doce esteve na base do título de Revista peça teatral do Orfeão de Ovar “Pão de Ló”, levada à cena em 1949/1950 que foi um êxito, com representações em diversas localidades, com o seu ponto alto no Coliseu dos Recreios a 1,2 e 3 de maio de 1950.

A excecional qualidade, de tão apreciada exótica e prestigiada especialidade, tornou-a conhecida nas mais diversas latitudes, incluindo o longínquo Japão, sendo por isso o melhor embaixador de Ovar.

Atualmente, o fabrico é da responsabilidade da proprietária Rosa da Silva Pilreira e de sua filha Maria de São Luis Pilreira Oliveira Dias.
Nos tempos que correm, Ovar tem imensas casas de fabrico de pão-de-ló espalhadas pela cidade e suas freguesias.

 

Bibliografia

Livro “Pão de Ló de Ovar” São Luiz de Luiz Duarte de Oliveira Dias, 2ª Edição

Monografia de Ovar de Alberto Sousa Lamy;