Ovar
O vocábulo Ovar é invulgar nas enciclopédias, onde só se encontra três significados: nome desta Cidade (não existe outra povoação do mesmo nome em Portugal ou em qualquer outro País), verbo intransitivo (pôr ovos, criar ovos, ou ovas) e verbo transitivo brasileiro (fazer ovação, aplaudir, aclamar, vitoriar).
A cidade de Ovar está situada na Beira Litoral, sendo sede dum dos 19 concelhos do distrito de Aveiro.
Na grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (vol.19) escreveu-se que Ovar “chamou-se Var ou O var, de onde derivam os gentílicos varina e vareiro, aplicado às gentes e coisas de Ovar, bem como aos seus descendentes em Lisboa, numerosa colónia de peixeiras.”
Para o Padre Miguel de Oliveira (Ovar na Idade Média, 1967), o nome de Ovar “nunca foi var, nem O var, como tantas vezes se repete” naquela enciclopédia.
Para Pinho Leal (Portugal Antigo e Moderno, vol.VI, 1875) os habitantes de ovar são denominados varinos ou vareiros e embora se dê este último nome a todo o habitante do Litoral, é um erro – Vareiro é só o habitante de Ovar.
Vareiro ou Varino e Vareira ou Varina não é o homem ou mulher que habita ou é natural de Ovar, é o individuo da beira-mar, entre Aveiro e Porto, aproximadamente, é o que é oriundo de toda a região da Laguna do Vouga.
Os habitantes ou naturais de Ovar são denominados Ovarenses ou Ovarinos.
Pinho Leal tem tido seguidores: para João Pedro Machado, vareiro respeita a Ovareiro, de Ovar e para o Dr. Eduardo Lamy Laranjeira “a palavra vareiro designa toda a pessoa natural de Ovar, e bem andaram as numerosas colónias de emigrantes de Ovar, espalhadas pelos E.U.A, Brasil, Venezuela, França, Alemanha e outros Países do Mundo, denominando-se Colónias de Vareiros de …, sem consultarem, previamente, os numerosos e eruditos livros sobre o vocábulo vareiro.
No reportório do Grupo Folclórico de Ovar, coligido pelo seu fundador Manuel Lopes Conde, acha-se compilada a Marcha “A Vareirinha”:
“Sou vareira, sou vareira
Sou vareira, sou d’Ovar”
Durante grande parte do Século XIX, a venda de pescado na bacia do tejo era quase exclusividade feita por ovarinas e Murtoseiras, pois “Em geral, todas as peixeiras de Lisboa são mulheres e filhas dos varinos, que vêm de Ovar e de Aveiro, a trabalhar lá de inverno.
“Segundo xavier Fernandes, Ovarino é forma erudita e varino forma popular do anterior pela supressão do O inicial, fenómeno que se explica pela confusão com o artigo O, como sucedem, por exemplo, com o vocábulo arcaico obispo, que deu o moderno bispo”.
Mas o nome ovarino é também dado aos laboriosos vendedores e transportadores de peixe de Lisboa, aos sardinheiros, dado que a sua maioria são naturais de Ovar e terras vizinhas e conservam “um conjunto de costumes, hábitos, trajos, modismos de falar, etc, de modo a caracteriza-los um clã bem definido na população da capital, quase que até confinado em bairros próprios, como a Madragoa”.
Ovar foi elevada a cidade em 1984, pela lei n.º 9/84, de 28 de Junho.
Bibliografia
Monografia de Ovar de Alberto Sousa Lamy;
Dicionário da História de Ovar de Alberto Sousa Lamy;
Fontes desconhecidas.
São João
Na zona centro do Concelho situa-se a freguesia São João. Faz fronteira a norte com a freguesia de Arada, a sul com as freguesias de Válega e São Vicente de Pereira, a nascente com as freguesias de Souto e Travanca, do Concelho de Santa Maria da Feira e a poente com a freguesia de Ovar, tendo como limite a linha do caminho-de-ferro.
O documento mais antigo de que há registo sobre São João é uma carta de venda datada de 1026. Nessa carta, Meitilli vende a Octício a quarta parte das propriedades que tinha no Casal da vila de Cabanões e em Muradões (que poderá corresponder ao lugar de Sobral), junto ao rio Ovar. O historiador Miguel de Oliveira defende que os primeiros documentos seguros em que se mencionam as Vilas de Cabanões e Ovar são, efetivamente, do século XI, mas é de crer que o povoamento local seja muito anterior a essa data.
A história mais recente de São João refere-a como tendo sido, primeiramente, uma paróquia experimental (1963), por ordem das autoridades religiosas da Diocese do Porto.
Por decreto de 13 de Janeiro de 1967, a paróquia foi definitivamente criada, passando a acolher todo o território situado a leste do caminho-de-ferro, a ter como sede a Capela de São João e como padroeiro São João Baptista.
A 26 de maio de 1976, foi entregue ao Governador Civil de Aveiro, Dr. António Neto Brandão, por uma representação de moradores de Ovar, uma exposição para a criação da nova freguesia – Ovar (São João) -, constituída por todos os lugares da circunscrição religiosa de São João de Ovar.
No Noticias de Ovar de 8 de julho de 1976, cidadãos de Guilhovai e S. Donato declararam que os referidos lugares não desejavam fazer parte da freguesia civil de S. João.
A 10 de agosto de 1976, efetuou-se novo plenário, na Câmara Municipal, que teve presença de cerca de 600 cidadãos. Da votação que decorreu, 309 votos foram a favor da criação da nova freguesia civil e nenhum voto contra e “Devido ao adiantado da hora, numerosas pessoas retiraram-se sem votar” (João Semana, de 1/9/1976), tendo 21 cidadãos de Guilhovai e de S. Donato, por carta a que deram publicidade, impugnado a legalidade do plenário.
A 19 de março de 1979, a Câmara Municipal, apoia a criação da freguesia de São João de Ovar e a 4 de julho os deputados do PSD do círculo de Aveiro, apresentam à Assembleia da Républica um projeto-lei criando a freguesia de São João de Ovar, abrangendo todo o território situado a leste do caminho-de-ferro tendo a 13 de março de 1980, apresentado um novo projeto-lei visando criar a freguesia de São João de Ovar, com os mesmos limites da Paróquia.
Finalmente, a 9 de julho de 1985, a Assembleia da República criou a freguesia de São João de Ovar (Lei nº85/85, de 4 de outubro).
Nas eleições autárquicas, de 15 de dezembro de 1985, foi eleito primeiro Presidente da Junta de Freguesia de São João de Ovar, o cidadão Manuel da Silva Lopes, do partido social-democrata, que fora Presidente da Comissão pró-criação da Freguesia de Ovar desde o seu início, a 15 de novembro de 1975.
Na sessão camarária de 8 de janeiro de 1979, o Eng.º Joaquim Maria Braga da Cruz apresentou uma proposta referente à implantação do novo cemitério oriental de Ovar, nos terrenos a nascente do Barreiro de São João.
A 19 de agosto de 1981, a Câmara Municipal deliberou proceder à expropriação dos terrenos abrangidos no plano de construção do cemitério oriental; e, por escritura de 29 de novembro de 1983, foi adjudicada a obra, localizada nos Quatro Olhos, na fronteira de Cabanões – Cimo de Vila, do lado Sul da estrada.
A 2 de novembro de 1981 começaram as obras do Centro Social de São João de Ovar; que foi fundado em 1983, por iniciativa da Comissão Fabriqueira da Paróquia, instituição formalizada a 31 de maio desse ano.
A 11 de setembro de 1988, pelo Dr. António Oliveira Antunes, Presidente do Centro Regional da Segurança Social, foram inauguradas a Creche, Jardim de Infância e ATL do Centro Social e Paroquial de S. João de Ovar, tendo como presidente o padre Carlos Alberto Ferreira de Matos e como vice-presidente Joaquim Maria de Almeida, motor principal da obra.
No final de 1999, 25 funcionários do Centro Social e Paroquial apoiavam a creche (40 crianças), o Jardim de Infância (56 crianças), e o ATL (40 alunos). A 8 de julho de 2000, foram solenemente inauguradas as novas instalações da Creche, Jardim de Infância e A.T.L. do Centro Paroquial de São João de Ovar.
A 30 de Novembro de 2000, foi inaugurada oficialmente a Farmácia São João, a 1ª farmácia da freguesia de São João de Ovar, localizada perto da escola primária de Cabanões, e tendo como diretora técnica a Dr.ª Maria Manuela Ferreira de Amorim.
Bibliografia
Monografia de Ovar de Alberto Sousa Lamy;
Dicionário da História de Ovar de Alberto Sousa Lamy;
Fontes desconhecidas.
Arada
Freguesia do Concelho de Ovar.
No século XVI, o cabido da Sé do Porto defendeu os limites territoriais de Cabanões contra o comendador de Riomeão, a quem pertencia Arada.
Por uma sentença de 23 de março de 1630, que confirmou a demarcação entre Arada e Ovar, aquela passou a ter praia de mar, com os dízimos do pescado desviados para a comenda.
Em 1646, pescadores de Ovar pescam na praia de Arada, pertença de cabanões.
Por acórdão de 4 de novembro de 1666, do Tribunal da Suplicação, foi considerada nula a demarcação de 1630, ficando Ovar e Cortegaça limítrofes na praia, dado Arada não ter acesso ao mar.
Em 1819 pescava no Furadouro a companha do Senhor Jesus e Senhora da Soledade, de Arada e em 1838, foi registada na Câmara Municipal de Ovar, a companha de S. Martinho de Arada, com seu barco, 163 arrais e pescadores, passando a pescar na costa do Furadouro.
Pelo decreto de 31 de dezembro de 1853, do ministério da Regeneração presidido pelo Duque de Saldanha, ficou a pertencer ao concelho de Ovar a freguesia de Arada, desanexada do julgado de Santa Maria da Feira, tendo o decreto de 31 de dezembro de 1853, que criou a comarca de Ovar, de 3ª classe, integrado nesta freguesia de Arada.
Da insurreição popular contra o arrolamento predial e pessoal que ocorreu em1870, na freguesia de Arada – a sangria de arada (José Luciano) -, e se repercutiu em Ovar, veio a resultar a morte de cinco cidadãos e ferimentos graves noutros tantos.
O padre Manuel Augusto Cunha (Gesteira, Válega, 1918), que se ordenou sacerdote em 1949 e foi pároco em Arada, publicou a História do Culto de Nossa Senhora do Desterro de Arada – Ovar.
Bibliografia
Monografia de Ovar de Alberto Sousa Lamy;
Dicionário da História de Ovar de Alberto Sousa Lamy;
Fontes desconhecidas.
São Vicente de Pereira
São Vicente de Pereira é uma antiga freguesia portuguesa do concelho de Ovar, distrito de Aveiro.
A vila de Pereira remonta ao período neo-gótico, quando se constituía num senhorio que abrangia Pereira, Válega, Ponte de São Vicente e São Martinho.
As freguesias de São Martinho e Souto e a vila de Pereira Jusã, até ao fim do século XVIII, pertenceram ao concelho e julgado da Feira. A criação do concelho de Oliveira de Azeméis (1799), retirou ao da Feira a freguesia de São Martinho da Gandra e a parte de São Vicente que ainda pertencia à Feira.
A povoação foi vila e sede do concelho de Pereira Jusã do século XVI até meados do século XIX, que era constituído pelas freguesias de Pereira Jusã e Válega, tendo, em 1801, 4285 habitantes, e, em 1849, 8367 habitantes.
Em 1836 toda a freguesia de São Vicente passou para o concelho de Pereira Jusã, vindo a ser extinto e incorporado, em dezembro de 1852, no concelho e julgado de Ovar.
Do seu património fazem parte:
– Igreja Nova de São Vicente de Pereira – em 14 de fevereiro de 1756 o reverendo Diogo Pinto de Abreu lançou a primeira pedra do templo, que veio a ser inaugurado em 26 de agosto de 1764. Do anterior templo resta apenas o cruzeiro velho – ainda hoje em bom estado de conservação – a cerca de 300 metros a norte da Igreja. Atualmente existe um outro cruzeiro, a cerca de 500 metros a sul da Igreja, erguido por iniciativa de Dionísio Pereira dos Santos.
– Fábrica de Chapéus de São Vicente de Pereira – fundada por João Rodrigues de Oliveira Santos, nascido no lugar da Torre na freguesia de São Vicente de Pereira a 2 de março de 1832, e que emigrou com o irmão para o Brasil. Os irmãos João e António, adquiriram fortuna naquele país e, retornados a Portugal, edificaram no lugar da Torre uma fábrica de chapéus de feltro e lã, movida a vapor, precursora das grandes fábricas congéneres de São João da Madeira. Principiada em abril de 1872 a fábrica – na altura, a melhor do género em Portugal e umas das principais da Europa – ficou concluída em agosto de 1873. Tinha capacidade para produzir 1.200 chapéus por dia (400.000 por ano), mas devido ao mercado ser reduzido, apenas produzia entre 3.000 a 4.000 chapéus por mês. Além da lenha, usava como combustível o carvão de pedra importado da Inglaterra pelo porto de Aveiro. A fábrica, que chegou a empregar 90 operários, viria a falir, deixando em má situação financeira o sócio António Rodrigues de Oliveira Santos, que foi forçado a reemigrar para o Brasil. João Rodrigues de Oliveira Santos, grande demolidor do caciquismo político aralista, usando o pseudónimo de “Alfredo Timbyra”, veio a falecer a 20 de julho de1900. A ele se devem a abertura da estrada de Ovar a São Vicente e a criação, a 18 de julho de 1888, da escola oficial do sexo feminino na sua freguesia.
– Atafona – possivelmente o único exemplar de seu tipo que resta na região, destinava-se à moagem doméstica de cereais. De tração animal, era utilizada nas boas casas de lavoura, em zonas ou em épocas de carestia de água. A atafona de São Vicente é constituída por duas partes distintas:
a) A Roda Grande, com seus dentes radiais e o seu eixo ou pião seguro por escorasou arriostas e girando sobre uma vela, tendo, a meia altura, um barrote ou canga para o animal, que a puxava em círculo;
b) O Moinho, do lado de fora do passeio do gado, em plataforma de pedra, com a mó e os utensílios semelhantes aos dos moinhos de água.
Entre as duas estruturas, e sob o passeio circular, um eixo horizontal transmitia o movimento através de engrenagens como por exemplo carrestos, entrosa, veio, etc. Atualmente, essas peças jazem, inativas, soterradas.
– Aron Hakodesh / Ekhal – No mesmo edifício da atafona existe uma pequena sinagoga em estado de ruína – Altar Judaico.
Foi extinta em 2013, no âmbito de uma reforma administrativa nacional, tendo sido agregada às freguesias de Ovar, São João de Ovar e para formar uma nova freguesia denominada União das Freguesias de Ovar, São João, Arada e São Vicente de Pereira com a sede em São João.
Bibliografia
Monografia de Ovar de Alberto Sousa Lamy;
Dicionário da História de Ovar de Alberto Sousa Lamy;
Fontes desconhecidas.